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Primavera Sound 2009

Na minha longa viagem de autocarro entre Évora e Coimbra tive todo o tempo do mundo para escrever o meu Diário de Bordo sobre tudo o que se passou no Primavera Sound. Era um longo texto cronologicamente alinhado onde todas as emoções estavam explícitas. Mas também isto do blogging é como o lugar do pendura nos carros: SHOTGUN! A gasosa adiantou-se. Não que houvesse problema em descrever tudo novamente. Simplesmente, me parece desnecessário. Todos os momentos foram vividos a dois e felizmente em completa sintonia. Tudo o que podem ler aqui, eu não conseguiria dizer melhor. Foi um óptimo exercício de memória o diário que escrevi, valeram a pena as 5 horas de viagem.
Vou-me ficar por relacionar momentos mais castiços, sui generis, emotivos, secantes, marcantes, decepcionantes.


BCN (2) – Manchester United (0)

No mesmo dia em que assistimos à première europeia do All Tomorrow's Parties - The Film, jogava-se a final da Champions League. Barcelona estava em loucura total. Avisaram-nos de antemão: Se eles perdem vão calminhos para casa, mas se eles ganham... ui... melhor guardar as motos dentro de casa e esperar o pior! Nós nada vimos. Só sentimos uma cidade inteirinha em júbilo. Como não houve tempo para procurar uma tasca para os lados da Paral.lel, petiscamos num marroquino próximo da Sala Apolo e a loucura foi igualmente fora de série. Mais não se poderia esperar de uma das mais requisitadas capitais europeias.




Os Senhores do Crowd Surfing
The Jesus Lizard e Duchess Says foram OS senhores.

Dos primeiros até se espera o crowd surfing e o concerto foi very impressive. Stage diving no seu apogeu!

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Foto: travel feelings

De Duchess Says eu nada esperava. Não os conhecia. O concerto vimo-lo na festa de despedida do Primavera Sound, novamente na sala Apolo. Duchess says é algo entre o punk, o gótico e a eletrónica soberbamente interpretado por Annie-Claude: I want to see some more of this white light, please. I want to see some more of this white light. Annie-Claude queria ver o público, molhar o público, dançar com o público, brincar com o público, confundir o público, fazer crowd-surfing no público e dar uma grande grande dor de cabeça aos técnicos. Definitivamente a repetir.


Nem aqueceu nem arrefeceu

Yo La Tengo deram para mim um concerto amorfo. Não sei se pelos meninos ou por mim. Já lá vai o tempo em que ouvia And Then Nothing Turned Itself Inside-Out. Acho que esperava mais de uma banda que começou a dar os primeiros passos e ainda eu tinha uns mini 4 aninhos. Senti que esta tinha sido uma má escolha pois à mesma hora tocava Joe Crepúsculo y Los Destructores e diz quem viu que pouco faltou para ser do ca#$#%$%&.

As Vivian Girls dão um espectáculo de rockinho bem tocado por 3 meninas compenetradas e uma baterista faladora (por incrível que possa parecer). Tiveram criticas muito boas aos albúns mas não me trouxeram nada de novo. Fiquei sem compreender muito bem o entusiasmo à sua volta.

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Foto: Josep M. Martí

Tínhamos visto Bloc Party há pouco tempo no Olympia de Londres como atrelado aos Foals. No Primavera Sound o alinhamento foi diferente, mas o espectáculo foi pouco mais do mesmo.


O princípio da incerteza

Este ano os bilhetes para o Auditori vendiam-se nas máquinas, mas apenas no próprio dia. Acreditamos que seria possível arranjar bilhete para Extralife e na sexta-feira chegamos mais cedinho. Mas qué dos bilhetes?! Nickles. Os concertos no Auditori são como os pilhões. Que os há, há. Eu é que nunca os vi.


Os mais azarados

Deerhunter tocaram entre o concerto de Neil Young e Sonic Youth. Se após Neil Young muitos queriam era ir descansar e encher o bandulho, outros tantos não aguardaram pelo final do concerto de Deerhunter e a debandada foi quase geral mesmo antes de o concerto ter terminado. Por nossa parte, tivemos a sorte de não perder pitada de Deerhunter e ainda assim ficar a uns escassos 10 metros dos Sonic Youth.

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Foto: alterna2


A menina com mais sorte
Eu, pois claro.

Algures entre The Bug e Ponytail a barriga começou a dar horas e aqueles burritos estavam a sorrir para mim. E não é que estavam mesmo? O rapaz que servia engraçou comigo e conversa puxa conversa acabou por me oferecer mais duas senhas para o dia seguinte. A gasosa é que não achou lá muita piada, mas a 8 euros a senha... que se lixe... desde que fique só pelos sorrizinhos!


Hoje soube-me a pouco, hoje soube-me a pouco

De Cuzo perdemos o concerto logo no primeiro dia. Achamos sempre que não vamos aguentar as 12 horas de corre corre e depois há pérolas que se perdem. Tivemos o prazer de os ouvir na microtenda feita estufa Ray Ban Unplugged, mas as 3 músicas deram apenas para o bichinho da curiosidade espreitar cá para fora.

Não sei o que andamos a fazer entre o concerto de Vivian Girls e Jason Lytle pois perdemos a maior parte do concerto de The Pains of Being Pure at Heart. Uma pena devo dizer, porque do pouco que vimos, terá sido um concertaço.



Estava curiosa para ver Bat For Lashes. Gosto muito do álbum Fur and Gold e estava com curiosidade. O palco estava oniricamente decorado, à semelhança do que será o imaginário de Natasha Khan. Um concerto tocado e cantado na perfeição, mas de longe o concerto perfeito. Quando um concerto me passa aquela sensação de que não há o mínimo espaço para o improviso e que está demasiado colado aos albúns...uhmmm... hoje soube-me a pouco, hoje soube-me a pouco...

Infelizmente não me orgulho de dizer que já não estava nas melhores condições quando nos dirigimos para Squarepusher ao final da noite. Como tal não me é possível tecer qualquer comentário e obviamente hoje soube-me a pouco!


Weird?

Não sei se chame estranho ou simplesmente diferente ao concerto de Sun O))). 2 encapuçados. 2 guitarras. Escuridão quase total. Muito fumo. Sonido para a cabeça. Como descreve o maravilhoso livro do Primavera Sound: O som retorcido e doente transformado em música. Quem gosta, gosta muito. Quem não gosta, não tem paciência. Ando algures ali pelo meio: até gosto, mas não tive paciência para um concerto inteiro, pelo menos num Primavera Sound.

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Foto: crlsblnc


Marnie Stern

Não encontro uma categoria para Marnie Stern, mas também não consigo deixar de falar nesta menina tapfinger que eu adoro. Um final de tarde solarengo e o mediterrâneo logo ali ao lado. This is amazing! The whole mediterranean just in front of us, diz-nos uma baixista rendida aos encantos de Barcelona e nós rendidos a ela e ao seu carisma (em baixo uma foto da menina). O concerto foi muito menos intenso do que eu estava à espera, mas ainda assim não arredei pé. Havia que aproveitar.

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Foto: trontnort


O final mais surreal

De Rosvita nada conhecíamos e foi um mero acaso que nos levou ao palco Ray Ban Vice. São um ajuntamento de 3 rapazes madrilenhos. Mais uma óptima surpresa do Primavera Sound. Aconselho a darem algum do vosso tempo de antena a estes meninos: um baterista/vocalista/trompetista, vestido à futebolista, que salta da bateria e com toda a pressa do mundo tenta montar um trombone... mas como já a minha avó dizia, a pressa é inimiga da perfeição e a tarefa estava algo complicada. Felizmente os companheiros de banda são bons amigos e lá iam improvisando. Montado o estaminé, o baterista/trompetista salta para o público e toca a improvisar alguns sons, que a mim me soaram desconexos, mas cuja performance a todos divertiu bastante. Tivemos mais tarde o prazer de conversar com o trompetista que se mostrou altamente simpático. Props para os meninos.

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Foto: davidssb

Como o concerto de Wavves terminou, já os mais atentos sabem. Nathan Williams prestou-se a um espectáculo tão deprimente e arrogante (supostamente sob o efeito de um cocktail de ecstasy, valium e xanax) que RW Ulsh, o baterista, não esteve com meias medidas e desistiu do concerto a meio. Fiquem aqui com o vídeo e a notícia na Pitchfork.



A hora de Neil Young estava mais do reservada para este dinossauro responsável pela fauna dos mais variados Reinos que naquele dia acedeu ao festival. Nada de concertos em simultâneo e as cerca de 30.000 pessoas tomaram o rumo. De entre aquilo que se pode esperar ou não esperar de um concerto de Neil Young fica para a memória o devaneio final em que o velhinho do Rock destrói a guitarra. Haja saúde!


As melhores surpresas

Pelas entremeadas dos concertos de Phoenix e The Bug passamos pela microtenda Ray Ban Unplugged e chamou-nos a atenção o bom feeling que de lá emanava. Quando espreitámos era muito mais do que isso: eram dois vozeirões coloridos e carnavalescos. O verdadeiro concerto de Ebony Bones aconteceria cerca de 3 horas mais tarde no palco Ray Ban Vice e só veio confirmar o que o showcase tinha dado a entender. Uma festa pegada. Tudo de sorrisinho na boca e afrobeat no pé. Queremos mais disto!



Rosvita e Duchess Says são daquelas boas surpresas que um festival como o Primavera Sound pode trazer: nunca ouvimos falar deles, mas esperamos continuar a ouvir. Os concelhos que daqui vos dou:
1. nunca menosprezar as primeiras bandas do dia chegando tarde ao recinto. Tirem mais um dia de férias após o festival só para descansar.
2. Aproveitem os 5 dias do festival. As surpresas estão sempre à espreita.

Quanto a Herman Dune fiquei impressionada como 2 alminhas conseguiram encher aquele palco enorme. Numa altura em que a minha paciência para as inúmeras bandas folk começa a escassear, Herman Dune foi uma lufada de ar fresco. Um bem-haja.

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Foto: inma_varandela

O melting pot de Mahjongg foi outra bela surpresa. Música de estilo inclassificável que resulta na perfeição e que nos proporcionou um belo final de noite de sexta-feira.


A repetir

Shearwater apresentaram-se em palco com 4 músicos, sendo que a formação original é de apenas 3. Mas pareciam muitos mais ao nos presentearam com 2 guitarras, baixo, violoncelo, banjo, bateria, flauta, trompete, 2 teclados, bateria e xilofone. Um concerto a repetir.

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Foto: crlsblnc

A estação seguinte a Shearwater era para ver Jason Broderick, membro fundador dos Napalm Death. O seu "pós-rock industrial", chamemos-lhe assim, convenceu-me. Mais um para repetir.


As desilusões

Dan Deacon era um dos concertos onde mais depositava as minhas esperanças. Saí desconsoladinha. E acredito que metade do público também. Porquê só metade? Porque a outra provavelmente se terá divertido com os devaneios do Sr. Deacon de querer montar bailarico no meio de milhares de pessoas e num espaço demasiado pequeno para tal. Talvez esta ideia mirabolante tenha resultado em Serralves, tal como ouvi dizer. Mas 10 minutos de explicações entre cada música e eu sem conseguir entrar na roda, sem ver absolutamente nada, completamente esmagada pelos milhares de Primavera Abonados que tentavam formar rodinha... pffffff. Ao final de umas quantas desistimos. Estou agora a ouvir o Bromst já que o próprio Deacon não me deu essa possibilidade in vivo.



Por tudo o que se tem vindo a dizer sobre os Ariel Pink's Haunted Graffiti e por serem a primeira banda da editora dos Animal Collective, a curiosidade também era muita. Só conseguia balbuciar: Que raio é isto? E muito se deveu à péssima prestação do vocalista. A minha opinão vale o que vale e havia lá muita gente a curtir o concerto, mas é mais um daqueles fenómenos que eu simplesmente não entendo.

Gosto de The Horrors e fazia questão de passar pelo Ray Ban Vice. Mas a desilusão foi grande. Algo não batia certo e era até desconfortável ouvi-los. Abalamos num ápice.


O que nos deixou consoladinhos

Would you like to hear some more music? I say. Would you like to hear some more music? And what about the ladies? (De)claro que sim! O corpo não conseguia, nem queria parar com tanto beat que saia do palco à hora de The Bug. Proporcionaram-nos um dos melhores momentos do fest.



Ponytail foi tudo o que eu estava à espera e muito mais. Eu que tive por eles amor à primeira vista, continuo a achar impressionante o que uns gritinhos aqui e ali, orientados por um som incrível, conseguem despertar no público. Foi tão intenso que mesmo depois de 3 noitadas seguidas tive a força de vontade, e felizmente a companhia, para marcar presença no Parc Joan Miró às 13:30 da tarde de Sábado para ver novamente Ponytail. Sublime mais uma vez, muito embora o público parecesse acusar o sol na moleirinha. Cá por mim ninguém me conhecia e tratei de dar à perninha.



The Mae Shi foi mais um concerto fabuloso que as minhas perninhas não queriam largar era nunca. Fiquei com a sensação de que os meninos não sabiam muito bem ao que iam: simplesmente um dos melhores festivais do mundo, com um público superinformado e curioso. Entraram bem no concerto, mas de pé atrás: You're all here to see Dan Deacon, uh? Nada disso, quem estava ali era para os ver e nada mais. Resultado? O público cantava com eles, dançava como se não houvesse amanhã e no final eles sim estavam rendidos e com certeza muito mais esclarecidos.



As críticas ao concerto de Sonic Youth são díspares. Alguns esperavam mais arrojo, outros mais êxitos, outros menos tédio, outros muita emoção e outros não esperavam nada. Parece-me normal numa banda que tem 28 anos e uma discografia já dificil de contabilizar. No nosso caso, a 10 metros, sentimos uma banda que já não precisa de comunicar entre eles para que tudo saia perfeito. Também nunca foram muito de conversar com o público e com o repertório que têm podem dar-se ao luxo de dar concertos completamente diferentes e ainda assim todos eles serem do ca#§$&##!
Deixamo-nos simplesmente ir com a música...
Se existe concerto perfeito, então esse é de Sonic Youth. No final, entre um olhar e outro e um leve abraço de mãos, restava-nos apenas o silêncio das palavras.




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